Crônica: Eu, você e o violão
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Se eu estava pensando em
você enquanto deslizava os dedos pelas cordas do violão? É, acho que
sim. Não era algo consciente, mas eu sentia você ali. Eu queria você
ali, mesmo sem me dar conta disso. Eu precisava. "Mi, si, sol, ré, lá
mi…" eu brincava com as cordas do mesmo modo que brincava com seu
cabelo, e tratava o instrumento com o mesmo cuidado que tinha com você.
Você estava nele, como normalmente estava em todas as coisas. Como está
nas garrafas vazias de refrigerante, desde que tomamos aqueles 2L de
manhã cedo. Como está no casaco largo que pende no cabide, pelo medo de
perder teu cheiro. Como está em todas as noites e em todo amanhecer. Eu
olhava para o violão, e não, não pensava em você. Eu me lembrava de
você. De como você ficava pedindo desculpa por errar uma nota, e ficava
frustrado por ficar fora do tempo. Lembrava de como você tocava a nossa
música olhando pra mim com expectativa, e repetindo "juro que vou
aprender toda". Me lembro de você, me ligando no meio da tarde pra dizer
''consegui tocar do início ao fim!". Olhando pro violão na cama, frágil
e antigo, eu me lembrava de você, de nós e de como era antes disso
começar. E mais do que isso, a delicadeza e fragilidade dele me lembrava
da nossa história, de nós dois, no geral. E vendo tanta semelhança,
percebi que a única gritante diferença é que o violão é meu. Já você…
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