Pequenas Confissões: Boas ressacas geram bons momentos para pensar
15:10
A claridade
entrou pela janela do quarto. Minha cabeça dói como nunca doeu antes. Meu Deus,
o que eu estava pensando? Eu nunca bebi tanto. Olhei pros lados e estava em um
quarto estranho. As lembranças de ontem começaram a surgir, memórias turvas.
Embaçadas. Ah, estou no quarto da Luana. Ontem foi estranho, bebi demais. Se
minha mãe me visse ela me mataria. Mas ela não liga. Quem liga? Quem pensa no que a vadia da Carol acha de tudo isso? Ninguém.
As coisas se complicaram pra mim quando
meu pai morreu, eu tinha uns 10 anos. Só isso. Minha mãe pirou. A vida virou do
avesso e até agora não se acertou. Eu costumava ser feliz, sabe? Tinha poucas
amigas, mas todas verdadeiras. Lembro-me da Sophia naquela época. Nós éramos
unha e carne, e, é claro, o Lucas. Éramos os três mosqueteiros. Tudo mudou com
o maldito AVC do meu pai. Ele estava bem e do nada. Puf. Ele estava em coma no
hospital. Eu tinha esperanças que tido acabasse bem, sabe? Eu ia todos os dias
ao hospital. Eu ficava do lado dele, rezando, conversando com ele. Um dia ele
teve uma parada cardíaca, acho que foi demais pra ele. Ele não aguentou. Foi ai
que eu mudei. Eu tinha perdido o meu herói. A única pessoa que me entendia. Meu
melhor amigo. Ele costumava ser meu bote salva vidas. Quando ele se foi eu me
senti boiando num oceano de emoções. A deriva em minhas próprias lágrimas.
É claro. O Lucas estava lá. Com a Sophia.
Eu acho que sempre fui meio apaixonada por ele. Ele era tudo que eu precisava
sabe? Ele é carinhoso, fofo, estava sempre lá nos piores momentos, mas ele
nunca me olhou. Eu estava perdidamente apaixonada pela ideia de ter alguém como
ele só pra mim. Alguém que poderia me entender, ver como era insuportável viver
com a minha mãe. Como se tornou mais insuportável quando ela casou de novo.
Odeio aquele marido dela. Um pervertido que me olha com malícia. Ela não liga,
ela está apaixonada demais pra ligar. Parece que eu sou o único pedaço do
marido que ainda não se foi. O marido que ela quer esquecer por completo.
Quando eu tinha 15 anos eu me aproximei do Lucas, a Sophia estava começando a
ficar e namorar outros caras. Aquilo magoava o Lu, eu tive a chance perfeita.
Eu tive o Lucas na minha mão por um instante. Mas a vida não é e nunca foi legal
comigo. Então, quando eu estava começando a acreditar que podia ser feliz de
novo eu perdi minha única fonte de alegria. O Lucas. Eu lembro como ele terminou comigo pra ficar com a songa monga. "Não da mais, Carol. Não é justo com você.". Justo comigo, como diabos ele o que é justo comigo. É justo eu perder a única pessoa que me fez sentir bem em um longo tempo? Não, não é justo. Nada disso é justo.
Eu também sempre tive inveja da Sophia.
Ela tinha tudo que eu queria. Uma família perfeita, uma casa perfeita, um quarto
perfeito. E, é claro, o melhor amigo perfeito. O melhor amigo que sempre foi
apaixonado por ela e ela nem notava. Ai foi quando eu me afastei, apesar da
minha fama, eu achava que ELA era a vadia escrota. Por tudo que ela fazia como
o Lucas, o tratava como nada. Ele completamente apaixonado por ela, e ela, por
outro lado, nem notava isso. Como? Se alguém tivesse por mim a metade da devoção que o
Lucas tem com ela, eu beijaria os pés dessa pessoa. Seria meu herói
particular. Eu abraçaria essa oportunidade jamais a deixaria ir. Jamais.
Eu nunca fui do tipo qualquer coisa pra
ter o que eu quero, eu sempre fui mais na minha. Há coisas piores que eu
poderia fazer que querer o carinho de alguém que eu gosto. Eu poderia estar
nas ruas, dando pro primeiro cara que me aparecesse. Ou poderia ficar em casa,
esperando que a vida reaja por mim, que o príncipe encantado chegue em minha
porta dizendo que eu sou o amor de sua vida. Eu poderia magoar caras como eu. Jogadores.
Até agora, seduzir caras não é um crime. Eu nunca tive que jogar sujo pra
ganhar um jogo. Mas com o Lucas é diferente. Ele é tudo que eu preciso. É tudo
que eu perdi quando meu pai morreu. E se a Sophia é a única coisa que me separa
desse amor, da minha felicidade, ela vai sofrer. Eu tenho que tirar ela do meu
caminho. Custe o que custar.
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