O nome dela era Luana: A festa - parte I
21:38
A Oli já tinha ido embora há algumas horas, mas eu ainda não
levantei do meu sofá surrado. A ressaca está castigando, e a minha cabeça fica
dando giros e giros. Não pela festança, não pela bebedeira. São os
acontecimentos da última noite, ficam dando voltas, replays, pauses, bugs na
minha mente. Que loucura tudo o que aconteceu.
Como um bom
pau-mandado, as 18h59 eu estava abrindo a porta e indo pra frente da casa ao
lado, esperar as madames e ser arrastado para a tal da festa. Quando vi que
eram 19h08, percebi que pra variar eu era o único pontual, e decidi entrar para
apressar as meninas.
A primeira a ser
encontrada no meio das montanhas de roupas e maquiagens foi a Carol. Ela estava
sentada no sofá, de costas pra mim, no único espaço que não havia sido engolido
pelas mil e uma roupas da Lu, de cabeça baixa, concentrada no celular. Quando
cheguei perto pude perceber que ela estava entretida em se auto-torturar, o que
significa que, sim, ela estava olhando as fotos dela com o Lucas, uma por uma,
com tanta pressa quanto uma tartaruga manca. Eu conheci a Ca já faz um tempo, e
esse lance dela com esse Lucas é bem complicado - e eu realmente não acho que
ela vá sair vitoriosa na batalha pelo coração do rapaz, o cara foi pra França
pra ver a outra mina, acho que isso dá uma dica de como vai ser o fim da
história. De todas as vezes em que a vi mal, nunca chegou perto de como ela
parece estar agora. Finalmente pigarreei, pra sinalizar que estava na sala, e
ela deu um pulo de susto e se levantou. Me deu um abraço forte e disse "oi
JP, não te vi aí, desculpa".
Ao que eu respondi
com um "tá tranquilo, Cá." Aí parei e disse "nossa, tá super
gata." E estava. Eu sou estúpida e assumidamente apaixonado pela Luana,
mas não significa que eu não repare na beleza das outras. E, uau, a Carol
merecia ser reparada. Não havia nenhuma super-produção, nem nada assim, e acho
que a simplicidade ali deixava-a mais bonita ainda. Maquiagem clara; vestido
vermelho, nem muito justo, nem muito solto; cinto dourado e um salto meio creme
que combinou perfeitamente; cabelo preso em um rabo de cavalo alto. Deus do céu,
que mulher.
"Valeu. Ela
ta no quarto trocando o sapato a cada 3 segundos.", ela falou e me tirou
do meu transe de nato observador.
Senti que algo de
bizonho ia rolar logo e, obviamente, algo relacionado à Lu. Subi dando uns
suspiro longo e involuntário, me preparando para o que quer que viesse - o que
incluía um provável ataque sobre sapatos.
Entrei no quarto, sem bater na porta (já tínhamos passado dessa
fase, convenhamos) e dei de cara com uma Luana bicuda e visivelmente frustrada.
E linda. Completa, inacreditável e incrivelmente linda. A maquiagem, ao contrário
da Ca, estava pesada e muito bem trabalhada, o batom vermelho (aquele batom
vermelho, sabe?...) estava marcando presença. Essa noite a Lu colocou uma
regata Jack Daniels branca, uma saia cintura-alta rosa, de couro e uma jaqueta
preta, de um desses materiais que imitam couro – porque, por algum motivo que
nem ela explica, a Luana detesta couro, com exceção apenas de quando se tratam
das saias. Cristo!, sou idiotamente apaixonado por ela.
“Ok, vamos fazer assim, você escolhe um e pela primeira vez eu não
vou contestar.”
“Não vai contestar e simplesmente vai usar o que eu escolher? Quem
é você e cadê a Luana?”, eu brinquei.
“Tem vinte minutos que eu tô nessa, JP, não enche e escolhe logo”
A Luana já me deu trilhões de aulas indesejadas sobre sapatos, e
eu tentei lembrar de algo sobre quando me vi na missão de escolher o
sapato.
“Esse aqui”, eu disse entregando um salto alto branco, torcendo
para que fosse a escolha certa e que ela simplesmente colocasse aquilo no pé e
fosse pra droga do carro, já eram quase 19h30.
“Ok. Valeu.”
Sabe aquela sensação de que algo ia acontecer? Só cresceu.
Salto no pé, cabelo no lugar, batom retocado, ela se olhou no
espelho uma última vez, me deu um sorrisinho travesso e saiu do quarto. Eu fui
atrás dela, claro. Tudo que eu queria naquele momento era entrar logo no carro
e enfrentar a festa. Mas, do fundo do peito, se eu soubesse o tanto que ia
demorar para entrar naquele quarto outra vez, creio que teria andado um pouco
mais devagar.
O nome dela era Luana, e aquela festa só afastou-a mais de mim.
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