Pequenas Confissões: Despedidas
13:20
- Lucas, querido, você pegou
tudo?
- Peguei sim, tia.
- Tem certeza que não esqueceu
nada?
- Eu só sei que vou deixar algo
contra gosto aqui – Disse olhando pra Sophia que observava da soleira da porta
nós nos arrumando para partir.
- Não começa, Lucas. - Disse ela
com o sorriso mais lindo do mundo estampado em seu rosto. Ela podia ser mais
perfeita? Impossível.
- O que? Eu não comecei nada. –
Disse e dei um beijo em sua bochecha.
- Ta bom, já chega. Eu paguei
caro demais por essa passagem e não quero me atrasar. – Disse a dona Vera
falou.
- Mãe?
- Sim Sophia?
- Eu vou sentir sua falta – Disse
ao mesmo tempo em que a abraçava. A relação da Soh com a mãe sempre foi
interessante pra mim, nunca foi nada comum. Elas pareciam mais amigas que mãe e
filha. Claro, que ela dava suas broncas, afinal ela ainda era a adulta na casa.
Mas a Soh sempre foi aberta a tudo com ela, e a dona Vera acabou se tornando uma
mãe pra mim também.
- Já chega dona Vera não vai agüentar
outra despedida de sua filhinha. – Sophia disse secando uma pequena lágrima
solitária que caia pelo seu rosto.
- Não, não vou mesmo. Lucas e
Sophia, Por que vocês não vão comprar aquele bolinho naquela cafeteria aqui de
baixo pra mim enquanto eu termino de arrumar as malas, que tal?
- Pode ser, dona Vera. – Eu disse
estava ansioso para ter um momento a sós com a minha menina.
- Claro. Vamos, Lucas?
- Vamos sim.
- Então... – Eu finalmente tomei coragem para falar
enquanto andávamos de volta para o prédio que a Sophia morava.
- Então o que?
- Como a gente fica?
- A gente fica como está, Lu. Por
enquanto.
- E quando você vai pra São
Paulo?
- Eu não sei, acho que daqui uns
dois meses, antes de recomeçarem as aulas.
- Claro... – Eu disse e parei de
andar.
- O que foi Lucas? – Ela disse
virando de frente para mim e pegando minha mão. A mão dela estava fria, isso
era tão Sophia. A mão dela vivia fria, mas ela não dava a mínima. Ela estava com
aquele sorriso de 1000 volts que faria qualquer pessoa sorrir com ela. Até eu,
a plena encarnação da tristeza nesse momento. Seus cachos pareciam com mais vida
como jamais estiveram, minha menina estava mais linda do que nunca e eu estava
partindo.
-Eu vou sentir sua falta, como
alguém no deserto sente de água. – Seu sorriso desapareceu e um brilho de
tristeza surgiu em seus olhos.
- Lucas. Não torna mais difícil
do que já é pra mim, só pensa nas coisas boas. Não me faz chorar mais uma vez. –
Ela apertou minha mão mais forte e colocou a outra em meu rosto. Nem morfina
tinha o poder de saciar minha dor como aquele simples toque teve. – Pensa que
dessa vez a gente vai se falar todos os dias. E pensa que dessa vez eu vou te
deixar com mais de uma carta de adeus para você se lembrar de mim.
- O que?
- Isso. – Então ela me beijou, eu
não sei como, mas aquele beijo foi muito mais do que os outros dois. Tinha algo
nele tão maravilhoso e inexplicável. Ela é o meu melhor calmante, minha
morfina, minha cura, meu tudo. Eu amo essa menina, eu poderia gritar por toda
Paris isso. Mas por algum motivo quando nossos lábios se separaram nada saiu de
nossas bocas. Na verdade, eu acho que não era necessário, não era preciso. Apenas
sorrimos como dois idiotas apaixonados, mas não é isso que nós somos? Aquilo de
uma maneira muito estranha me confortou. Uma voz em minha cabeça disse: “Ei
Lucas, essa menina que te beijou agora vai ser sua, apenas relaxe e espere”.
Então eu a abracei. E depois de cinco, dez, quinze, trinta minutos (quem sabe?)
eu quebrei nosso momento e a nossa bolha e proferi as palavras que mais me
doeram na vida.
- Hora de ir, pequena. Sua mãe
deve estar nos esperando.
- Certo. – Eu ia começar a nadar
novamente, então a Sophia da um leve puxão em meu braço, então me beija
novamente, me pegando de surpresa.
- Agora a gente pode ir. – Disse com
seu sorriso de 1000 volts novamente naquele seu lindo rosto.
- Você me acompanha senhora? –
Disse estendendo meu braço.
- Sim senhor. – Ela disse e
agarrou o meu braço. Então eu disse a mim mesmo
que iria ficar tudo bem, e eu espero que fique.
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