O nome dela era Luana: Abra as janelas do meu coração, morena
15:36
É curioso ver como no fim nós sempre acabamos voltando ao
começo. Há semanas eu não falava com a Luana – ou melhor, ela não falava
comigo. Mas a minha janela, onde tudo começou ainda estava ali, e a dela também
estava no mesmo lugar. Era inevitável entrar no meu quarto e sentir falta dela
ao dar de frente com aquela janela.
Mas ela parecia fazer questão de manter a própria janela
longe de si. Por vezes vi as luzes da
Fortaleza Rosa acesas, mas as cortinas do quarto principal estavam sempre
fechadas. Tudo começou, é claro, depois daquela festa. Depois da Olivia.
Queria poder dizer pra Lu o que aconteceu naquela noite.
Queria dizer para ela que, apesar de ter acontecido muita coisa, nada aconteceu
de fato. É claro que o fato de a Olivia ter dormido aqui em casa dificultou um
pouco as coisas, mas queria que a ao menos me deixasse explicar! O que,
obviamente, não iria acontecer nunca, já que ela é a mula mais teimosa da Via
Láctea.
Fico perdido sem ela por perto, parece que falta algo.
Parece não, está faltando algo. O cheiro dela continua aqui, nos casacos que
ela pegava emprestado sempre que podia. As músicas dela também, ela larga os cd’s
por aqui e agora eu nem tenho como devolver. Até os fios de cabelo dela vez por
outra aparecem (sinceramente, tenho a impressão de que um dia ela vai ficar
careca do tanto de cabelo que fica na escova quando ela passa a escova), como é
que pode... Mas o pior mesmo são as fotos. As fotos que a gente tirou junto, as
fotos que eu tirei dela. Ali ela parece sempre ser a Luana real. Luana sem
máscara. Luana do quarto colorido, a minha Luana. Era a Lu. Temos exemplares
das caretas, dos sorrisos abertos, dos sorrisos de boca fechada, dos
semi-sorrisos, das mãos na boca... Mas nada daquele carão, daquele jeito de menina
inalcançável. A Luana, morena dos sonhos de qualquer cara. É, essas fotos me
matam. A Luana está em todos os lugares, menos comigo. Podia vê-la em tudo, mas
não a via de verdade. Olhava para aquela janela e ela parecia uma metáfora para
isso tudo, sem a Luana, estava sempre vazia e...
A Luana, então, apareceu na janela. Short jeans, regata
branca, amarrotada. Cabelo preso em um rabo de cavalo desajeitado, estava
usando os óculos de secretária. Me viu. Viu que a vi. O que fazer, para onde
correr. Estáticos, ambos. Eu tinha perdido o ar, e ela parecia não saber o que
fazer, simplesmente. Abriu a boca como se quisesse dizer algo, e eu esperei.
Era minha menina, aquela sem reação na janela. Pareceram se passar horas, mas creio
que foram alguns segundos. Estava em transe. Então o telefone apitou,
anunciando a chegada de uma mensagem. Desviei o olhar e peguei o aparelho.
“Topa um almoço?”
Olhei para a Luana outra vez. Era outra. Lá estava a morena
mascarada outra vez. Era como se de repente ela tivesse se escurecido, quase como se um escudo invisível tivesse sido levantado entre nós. Ela levantara outra vez os muros do seu coração.
Levantou a sobrancelhas e, lentamente, formou com o
movimento dos lábios e sem som algum, um nome.
“Olívia.”
E se foi. Cortinas fechadas,
quarto vazio. Será que eu havia a perdido para sempre?
O nome dela era Luana... e ela manteve as cortinas fechadas.
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