O que me afastou do blog, mas me aproximou de mim mesma
15:23
Olá, mundo,
estou de volta!
Acho que
quem acompanha o blog deve saber que Ana pagou uma matéria maravilhosa chamada
artes cênicas. Pois é. Eu paguei essa incrível matéria também, por isso (em
partes) que eu fiquei ausente do blog por esses tempos. E espero voltar com
força total a partir de agora, se minha inspiração permitir. Mas não foi sobre
a minha suposta volta ou como estou/estava sem inspiração. Esse texto contém
muitas emoções envolvidas. Cuidado!
Eu sou o
tipo de pessoa que defende as artes nas escolas. Eu creio que precisamos desse
momento de explorar aquilo que é tão desvalorizado em nossa sociedade e tratado
como "coisa de vagabundo". Eu estava me preparando psicologicamente
pra esse momento que é artes cênicas desde que entrei no IF. Eu havia escutado
sobre essa tal de Marinalva desde que fiz minha primeira amizade veterana
naquela nova escola. Eu sempre
soube que os sentimentos das pessoas sobre ela eram mistos, confusos e
controversos. Há pessoas que
a odeiam e há aqueles que a idolatram e, literalmente, criaram uma oração em
sua homenagem. Essa mulher virou uma lenda viva daquela escola e eu não
estava sabendo lidar com a possibilidade de vir a estudar com ela.
E então,
após um ano e meio de instituição, é chegado o momento. No segundo semestre do
ano uma quinta feira as 8:50 haviam 40 corações palpitantes ansiando a chegada
de uma professora que todos sabiam que não seria fácil de lidar. Eis, que
correndo afobado, vindo de Deus sabe aonde, um jovem da minha sala chega
correndo gritando aos quatro ventos: "Ela está chegando!". Todos
então, em um súbito suspiro
e arregalar de olhos, resolveram correr imediatamente para suas devidas cadeiras,
inclusive essa pessoa que vos escreve. No momento eu não sabia o que pensar
o que falar. Eu, normalmente, quando fico nervosa tenho pequenos ataques de
riso. Esse dia eu não parei de rir. Quando escutamos um pequeno barulho de
porta fechando e passos todos congelaram onde estavam. Nem um bom dia, silêncio
total, absoluto. Ao fundo escutávamos
apenas o barulho de ar condicionado. Eis que finalmente ela fala, respirações
presas finalmente soltas, e alguns risos guardados também.
Uma hora e meia depois, Marinalva, Mari
Moura, Malvinha, aquela que antes era motivo de medo, havia virado uma das
minhas pessoas preferidas no mundo e, semana após semana, a quinta era cada vez
mais ansiada. Meus medos de cênicas, em sua grande maioria, se tornaram reais.
Mas, apesar de tudo nós (o que nos tornaríamos não muito mais tarde a
"Cia. Teatral Lorem Ipsum" e "Cia. Teatral Desconsolados",
a famigerada Turma de informática para internet) estávamos animados e com
vários sorrisos no rosto de enfrentar esses medos. Foi a primeira vez que eu
fiz trabalhos em pleno carnaval sem reclamar ou falar mal do professor (bem, só
um pouquinho). O fato é que essa, antes desconhecida, dava uma das melhores
aulas da semana. E de temida, passou a ser amada.
Dois meses depois chegou a temida hora.
Temos que fazer uma peça. Minha companhia, a Lorem Ipsum, ficou responsável por
fazer um espetáculo de comédia. Meu maior medo era que meus queridos colegas
conseguissem colocar piadas machistas, homofóbicas, racistas e apelantes no
texto, mesmo comigo pedindo encarecidamente que não fizessem isso. Entre
reuniões, ensaios e conversas, muitas, mas muitas discussões em meio a um
desses ensaios/discussões, a pior briga de todas, a única que não se resolveria
entre a gente. Foi então que aquela, antes estranha, resolveu todos os nossos
problemas e nos acolheu de braços abertos. Ouviu nossos choros e deixou nossas
lágrimas caírem, sem nenhum julgamento ou olhares tortos.
Mais dois meses se passam. É chegado o dia, não há mais o que fazer. Do jeito que estava, ficaria. Havia expectativas, nossas e do público. Não estávamos preparados para falhar ou fazer algo que não nos orgulharíamos futuramente. Duas horas antes da peça havia muito medo, havia tensão, havia gritos e lágrimas. Eis que um quebra gelo surge, tal funk vindo de um celular qualquer nos botou para dançar. Todas as preocupações e “e se” foram de repente esquecidos, deixando conosco apenas risadas leves e sentimentos plenos e positivos. Uma hora antes da peça. Todas as orações já haviam sido oradas, todas as preces já foram proferidas. Havia apenas uma coisa que não havia sido feita: Uma grande reunião com 22 pessoas em um banheiro minúsculo onde todos chorariam e diríamos que amamos uns aos outros. E foi isso que fizemos. Com direito a selfie e tudo.
Mais dois meses se passam. É chegado o dia, não há mais o que fazer. Do jeito que estava, ficaria. Havia expectativas, nossas e do público. Não estávamos preparados para falhar ou fazer algo que não nos orgulharíamos futuramente. Duas horas antes da peça havia muito medo, havia tensão, havia gritos e lágrimas. Eis que um quebra gelo surge, tal funk vindo de um celular qualquer nos botou para dançar. Todas as preocupações e “e se” foram de repente esquecidos, deixando conosco apenas risadas leves e sentimentos plenos e positivos. Uma hora antes da peça. Todas as orações já haviam sido oradas, todas as preces já foram proferidas. Havia apenas uma coisa que não havia sido feita: Uma grande reunião com 22 pessoas em um banheiro minúsculo onde todos chorariam e diríamos que amamos uns aos outros. E foi isso que fizemos. Com direito a selfie e tudo.
A peça. Sabe aquele frio na barriga? Aquela
coisa boa e ruim ao mesmo tempo em que faz você ficar com um leve embrulhar no estômago
e querer sair correndo no mesmo minuto? Foi isso que aconteceu comigo e creio
que o a maioria dos meus colegas de Cia. A primeira risada. Quando ela se alastrou
pelos corredores do auditório com ela foi também nossos suspiros de alívio.
Alívio por uma cena que antes ser péssima estar sendo engraçada. Alívio pelo
texto estar funcionando. Alívio por ter dado certo.
O fim. Passou. Acabou. Música de superação
para nós. Pizza vai, pizza vem. Nosso dia passou galera. Todos os: “Ta fora da
luz”, “Vocês estão atrás do cenário”, “Falem alto”, “Não deem as costas pro
público”, "Exagerem no personagem", "Não saiam do
personagem", entre outras recomendações de nossa amada professora serão
guardadas em nossos corações e memórias. O alívio e a felicidade de ter passado
tão bem por essa experiência foi inigualável. Artes cênicas, a matéria dita “inútil”
e “uma perda de tempo”, segundo muitos professores, alunos, pais e funcionários,
foi a matéria que mais me tornou uma cidadã em meus quase 15 anos de estudante.
Foi a matéria que me fez crescer, enfrentar meus problemas de frente e me
amadureceu. Acima de tudo essa matéria me deu o maior dos presentes, me deu uma
turma unida, a qual eu posso chamar de família.
Talvez cênicas fosse tão boa pra mim
quanto foi com qualquer outro professor. Mas eu sinto que não seria. Marinalva
foi o que, pra mim, fez essa matéria e esse evento ser tão importante. Essa
mulher não vai ser só mais uma professora que passou na minha vida e, enquanto
eu seco minhas lágrimas errantes e termino esse texto, eu tenho certeza que ela
guarda minha turma em um pequeno espaço em seu coração, assim como nós a
guardamos nos nossos. Todas as canções, brincadeiras, risadas, broncas
disfarçadas de palavras gentis e momentos estarão guardados em forma de porta
retrato em minha estante. Ela cativará o
coração de outra turma e nós, ou pelo menos eu, levaremos essa mulher que mudou
nossas vidas, ou pelo menos a minha, em nossos corações. Para sempre. Obrigada
Malvinha, por ser você.
1 comentários
Lindíssimo texto, além de uma grande declaração de amor às artes cênicas e ao trabalho da professora Marinalva. Sinta-se privilegiada por essa experiência extraordinária com o Teatro. Ela nos transforma por dentro. Irremediavelmente. Parabéns!
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