Crônica: Primeiro a ponta do pé
12:50![]() |
Photo by Claudia on Flickr |
Mas hoje é uma noite quente da pré-primavera e eu me sinto mais viva do que em qualquer momento das semanas passadas de meio do inverno. O meu café está esfriando em cima da escrivaninha e o sono se tornou tão grande que perdeu a importância. Quase tudo agora perdeu a importâncias. Pareço incapaz de ignorar o fluxo emotivo que me toma o corpo e canaliza-se na vontade de reviver o velho costume de sentar na cama ao fim do dia, debaixo de uma luz forte, e permitir que meus medos se desliguem e deem lugar ao espírito de escrita. E não consigo.
Tenho enfrentado uma série de mudanças radicais e ao mesmo tempo tudo parece igual. Sinto que não faço nada e simultaneamente estou constante e surpreendentemente exausta. Um sentimento de múltiplas indignações toma meu corpo diariamente - basta, pois, ler meia página de jornal por dia para saber que a missão de existir tem sido árdua - mas a sensação de impotência é proporcional. Nessa espiral, pareço ficar perdida, confusa e... silenciada.
Bem, cortei o cabelo semana retrasada e anteontem mudei minha cama de lugar.
Não sei exatamente qual a relevância ou o contexto da informação. Mas continuar silenciada me é inaceitável. Vou tentar dar passos curtos para reencontrar o pedaço de mim que precisava e conseguia extravasar todo o pensamento, tentando orgulhar por aí cada que passou pela minha vida - de maneira boa ou má - e me deu um pedacinho de matéria-prima para eu me construir.
Preciso também aceitar essa coisa toda de mudar, seja a mudança uma novidade ou a volta de algo do passado. Mas nada de mergulhar de cabeça, quero descer devagarinho pela escada da piscina, colocando primeiro a ponta do pé pra acostumar com a temperatura da água. Os medos não vão sumir, então acho que o negócio é aceitar que tudo bem que eles existam.
E se o caminho é o café, a desconexão de ideias e os passos de criança, que seja. Esse é (alerta de achismo!) o reencontro mais importante de qualquer momento de toda a minha vida: comigo. E, quando der, com a escrita.
0 comentários